“Não sou literato. Sou poeta do cinema. E o cinema nada mais é do que cachoeira. Deve ter dinamismo, beleza, continuidade eterna.”
Humberto Mauro
Compartilhando das águas da cachoeira de Humberto Mauro, tomamos, então, o Cinema como natureza viva, como fluxo constante e intenso, que pulsa fortemente e que transborda em movimento, tradução da vida.
E quem está por trás das lentes não está, também, navegando nesse rio caudaloso? Compartilhando de uma realidade dúbia? Ou será, então, tudo uma só realidade? Essa água infinita, que não se molda e que não se configura, invade a sétima arte. ¨Somos uma cachoeira contemplando a outra. ¨
Seguindo a metáfora líquida, tal qual Guimarães Rosa, construimos uma terceira margem no rio para que possamos, assim, observar, com outros olhos, os elementos que dão forma ao Cinema.
É longo o caminho percorrido pelo filme até chegar aos nossos olhos: da idéia amadurecida pelo diretor às informações repassadas pelo balconista da locadora mais próxima de casa. O mundo paralelo de quem vive atrás das lentes, seja idealizando, seja operando; o aperto do cotidiano do funcionário da lojinha de dvd’s… podem, esses elementos, cada um com seu mundo, mas todos no universo da sétima arte, cruzarem-se?
“O Cinema me salvou , em síntese é isso. Me salvou da mediocridade”, Joel Pizzini.
Somos todos elementos. Mergulhamos nessa cachoeira à medida que a vida, em nós, pulsa. Somos, simultaneamente, inspiração, criadores e atores. Até mesmo no desejo de retratar o vazio, se tal necessidade nos ocorre, é porque refletimos o vazio em algum ponto dentro de nós, e, se absorvemos até os silêncios das imagens, é porque somos, também, agentes dessa pausa que nos é necessária. Parafraseando Pizzini, ¨E o ‘nada’ é o puro território da poesia também¨, pois o Cinema é, senão, a nossa própria urgência tomando formas, mesmo que descontínuas.
Com várias faces, pétalas ou margens, sozinho é que não se contrói. Simbiose que se sustenta nos múltiplos agentes que compõem o cenário. Atividade orgânica, necessidade vital, tal qual respirar. Cinema, para muitos, para os que sentem, para os que pulsam, para os que não cabem dentro de si, é expansão, é vida. Que não corre sozinha.
Cinema é cachoeira
(Flávio Henrique e Murilo Antunes para Humberto Mauro)
“Então se fez a luz da ilusão
A arte em movimento a surgir
A vida plano a plano a prosseguir
Em câmera mais lenta que o olhar
Minas a passar
O homem simples viu e revelou
Histórias de uma gente sem igual
Imagens de trabalho e suor
Em cena a alegria e a dor
Preto e branco amor
A liberdade imaginária
Nas lentes do seu coração
A panorâmica clareza
De quem viu toda a grandeza
De um Brasil interior”
Agradecimentos a: Joel Pizzini, Natália, Tiago Nascimento, Janaína Neris e Márcia, gerente da Distrivideo.